terça-feira, 30 de novembro de 2010

Oferenda animal

Nesta postagem de hoje venho falar de assunto super polêmico e portanto merecedor de muitos comentários e opiniões.
Falo da oferenda ritual de animais. Muito se diz, se fala, se alardeia, mas pouco se conhece do assunto. Até mesmo dentro de nossas casa vemos quem é a favor, contra ou então simplesmente tem um discurso moralizante de formação católica e incluindo o assunto no "dogma".
Minha opinião: não existe dogma no Candomblé. Temos erò, segredo, fundamento. tudo se aprende, só depende do seu tempo, da formação de seu Pai ou Mãe e principalmente da necessidade de se ensinar.
Nada no Candomblé, seja qual nação for, é transmitido sem necessidade. Não há motivo, não se faz. E é fazendo e participando que se aprende no Candomblé.
Segue um texto enviado por e-mail e que fala de um caso polêmico de mudanças ocorridas dentro do culto por uma Yialorixá que se abstém da oferenda de animais por ser vegetariana e defensora dos animais( pobres coitados). O texto que se segue é de autoria de Fabiola Colares, Nzungulê dia Nzambi, grande amiga e colaboradora eterna em minhas pesquisas e neste blog. Ela por si só já explica as razões de se preservar a oferenda animal, que muitos de nós ainda usa o termo "matança" ou "sacrifício", numa alusão direta a nossa cultura ocidental cristã e empregado errôneamente dentro do culto aos Orixás.


"Nossa Nzo (casa), busca as tradições do Candomblé, preservando nossos hábitos e costumes de maneira mais correta, ainda que muitos deles tenham sido perdidos devido à necessidade do segredo dos nossos cultos precisarem ser mantidos. No aprendizado, na doutrina que venho recebido desde que comecei a compreender algumas práticas, opino sobre o texto abaixo, dando o meu parecer, ainda que sem muita experiência. 

Acredito que toda religião, independente da prática, procura manter viva a prática desde que foi criada. Quando o tradicionalismo das práticas é alterado, concordo sim que uma nova religião, um novo culto, está nascendo. Não sou radical com o uso do livre arbítrio, mas acho absurda a afirmação da necessidade de alteração em prol da evolução de tradições do Candomblé. Será que daqui a algum tempo estarão oferecendo a Mutakalambo (Oxossi), o dono da caça, da fartura, oferendas feitas com carne de soja? De repente oferecerão a Nsumbu (Obaluaê) uma pipoquinha feita no microondas? Que tal um manjá com adoçante dietético e leite desnatado para Kaia (Iemanjá)? Sem falar que daqui uns dias serão capazes de oferecer a Njila uma farofinha feita com ração humana e óleo de girassol, substituindo o dendê e a cachaça, nada saudáveis diante à evolução da humanidade que vem buscando práticas mais adequadas à sua alimentação. Que eu tenha o discernimento para não infartar enquanto escrevo isso. Risos.
Ironias inevitáveis para o p ovo do Santo que sabe e procura deter os segredos do sacro ofício (e não sacrifício ao meu ver) das oferendas vivas aos Mikisi (Orixás), aprendi que quando uma vida oferecida em sacro ofício é dada, é porque existe uma troca de energia vital para que possamos nos mantermos vivos. Outra coisa, óbvia e evidente, por um acaso algum de nós, ditos evoluídos, temos por hábitos de nos alimentarmos de animais vivos? O alimento é sagrado, assim como a vida que o manteve na terra até que chegasse a hora de nos alimentarmos. Portanto, não recuso o livre arbítrio de absolutamente ninguém, mas questiono, defensora que sou da fé que me mantém viva, a qual cultuo através do Candomblé de Angola, que práticas contrárias às tradições religiosas do Candomblé sejam alteradas indiscriminadamente apenas para satisfazer a vida saudável dos zeladores ou seguidores do Santo. 

Fica registrada a minha opinião, respeitando aos mais velhos de todas as nações, m as não deixando de opinar, pois, ainda que eu não tenha hierarquia dentro da fé por ser muito jovem nas práticas dos rituais sagrados, Nzambi me deu a permissão de ser inteligente o suficiente e me orientar para uma casa de culto maravilhosa, com uma Mãe zelosa, para que eu, com o que me foi dado, defender como posso a minha religião e os preceitos ancestrais da mesma. 

Estou encaminhando este e-mail para os amigos e irmãos de fé porque sabemos muito bem o que nos liga aos preceitos do Candomblé de Angola, Ketu, Jeje, Efón..."

Atenciosamente,

Nzungulê diá Nzamb 


*a foto é de minha casa, dia do assentamento de Onilé, tirada após os pedidos e a oferenda feitos .

sábado, 27 de novembro de 2010

Pata de vaca – Abàfè

 Pata de vaca – Abàfè
Bauhinia forticata

 Essa é a que tem flor branca, muito usada em banhos para Obaluaiê e a rosa pra Oyá.
Em certas casas também se usa pra Yemanjá.

É da família das leguminosas e é amplamente usada em arborização de ruas nas cidades, pois alem de crescimento rápido floresce e dá belo aspecto às mesmas.


É também conhecida como bauínia, miroró, mororó, pata-de-boi, pata-de-burro, unha-de-anta e unha-de-vaca.

É uma folha de características femininas e seu elemento é Terra.

Indicações: É empregada nos tratamentos da diabetes. A casca é indicada para diabetes e as folhas como diurético. É diurética e expectorante




GUERÊ GUERÊ MEJÊ JÊ Ô
GUERÊ GUERÊ MEJÊ JÊ Õ, ALÁ ORIXÁ
KÉ DI MATÁ KÉ DI MOIÓ
KÉ DI MÁ ORIXÁ IÉ IÉ KANXOXÔ
AUÁDÊ ÓMÓ OBÁATALÁ





Piliostigma thonningii

Esta planta é o Abàfe original, na pesquisa de Pierre Verger, mas como suas folhas possuem as mesmas características da Bauínia, foi adaptada pelo povo do santo, como acontece com quase toda a flora usada nos ritos Nagô. Aqui temos uma noção da diferença observando as flores.




Infelizmente não encontrei a cantiga de encantamento desta folha, pois não tem uso litúrgico difundido e pode ter se perdido.

Este post é fruto de um pedido: Caio César, menino lindo do Ogun. Não é meu irmão de casa, mas é irmão de fé!

quarta-feira, 24 de novembro de 2010

Epa Babá!!!


Porque os dois são meus amores eternos!!

MEU PAI REINARÁ!

Depois de um tempo sumido daqui eu retomo, devagar, a minha primeira proposta: escrever coisas sobre como é viver uma vida ligada aos Orixás, trocar idéias, receber criticas e sugestões.
Meu sumiço se deve em parte a uma insatisfação e em outra a um problema muito sério que pretendo começar a discutir aqui hoje.
O primeiro motivo é a insatisfação relacionada ao outro. Explico: quando me motivei a escrever aqui com esse propósito, me imbuí de um anseio que não se concretizou. Queria que aqui fosse um espaço pra discussão entre iguais: adeptos do Candomblé. Mas não vi isso acontecer. Veio de cara a decepção. Os poucos comentários que eu recebi foram de pessoas que são meus amigos, mas nenhum ligado diretamente a minha casa ou ao meu barracão. Amei de montão saber que tenho amigos que fiz há tempos e que ainda permanecem assim comigo. Mas eu queria mais.
O outro motivo de meu desaparecimento em quase tudo foi a depressão. Não estamos acostumados com esse mal. Não sabemos lidar com ele. Nem quem está dentro do problema e nem quem está fora dele. Tive grandes problemas e todos relacionados a depressão. Não tive quem pudesse me orientar, me dar uma força, estar perto de mim ou pelo menos ligar pum convite, que mesmo recusado poderia dar indícios do que estava passando. Ainda não saí disso, mas hoje eu penso mais tranquilamente em tudo isso e posso começar a ver que um certo equilíbrio está vindo. Mas ainda tenho medo de certas coisas e receio de certas atitudes das pessoas que se aproximam de mim.
Não sei dizer como isso começou, mas sei precisar quase que exatamente quando eu me afastei de tudo e de todos, inclusive de meus Orixás e de minha casa. Foi um erro? Não sei dizer, não agora. Sei que foi necessário e que continua sendo, acho que pra meu melhor equilíbrio.
Ouvi muito dizer que era agora que eu precisava de estar lá, com meu povo, com meus Orixás, tocando minha vida. Mas honestamente, quando se está assim a ultima coisa em que acreditamos é que a convivência pode fazer algo, que um ebó pode mudar as coisas, que um Bori vai nos fazer mais confiantes. A depressão se incumbe de nos tirar tudo, inclusive a possibilidade de ser ajudado. Como agir nessa hora? Como fazer quando vemos um amigo ou irmão assim? Conversas de telefone ou de Orkut? Nunca, são os piores caminhos. A esperança está no contato, no fato de sabermos que temos alguém, que temos suporte, não com frases lindas, mas com a realidade e a convivência.
Sou grato aos meus Orixás que puderam até agora me suportar e me sustentar.

É pra eles meu texto de hoje.

Axé Babá Mi!!!
Epa Babá!