Falo da oferenda ritual de animais. Muito se diz, se fala, se alardeia, mas pouco se conhece do assunto. Até mesmo dentro de nossas casa vemos quem é a favor, contra ou então simplesmente tem um discurso moralizante de formação católica e incluindo o assunto no "dogma".
Minha opinião: não existe dogma no Candomblé. Temos erò, segredo, fundamento. tudo se aprende, só depende do seu tempo, da formação de seu Pai ou Mãe e principalmente da necessidade de se ensinar.
Nada no Candomblé, seja qual nação for, é transmitido sem necessidade. Não há motivo, não se faz. E é fazendo e participando que se aprende no Candomblé.
Segue um texto enviado por e-mail e que fala de um caso polêmico de mudanças ocorridas dentro do culto por uma Yialorixá que se abstém da oferenda de animais por ser vegetariana e defensora dos animais( pobres coitados). O texto que se segue é de autoria de Fabiola Colares, Nzungulê dia Nzambi, grande amiga e colaboradora eterna em minhas pesquisas e neste blog. Ela por si só já explica as razões de se preservar a oferenda animal, que muitos de nós ainda usa o termo "matança" ou "sacrifício", numa alusão direta a nossa cultura ocidental cristã e empregado errôneamente dentro do culto aos Orixás.
"Nossa Nzo (casa), busca as tradições do Candomblé, preservando nossos hábitos e costumes de maneira mais correta, ainda que muitos deles tenham sido perdidos devido à necessidade do segredo dos nossos cultos precisarem ser mantidos. No aprendizado, na doutrina que venho recebido desde que comecei a compreender algumas práticas, opino sobre o texto abaixo, dando o meu parecer, ainda que sem muita experiência.
Acredito que toda religião, independente da prática, procura manter viva a prática desde que foi criada. Quando o tradicionalismo das práticas é alterado, concordo sim que uma nova religião, um novo culto, está nascendo. Não sou radical com o uso do livre arbítrio, mas acho absurda a afirmação da necessidade de alteração em prol da evolução de tradições do Candomblé. Será que daqui a algum tempo estarão oferecendo a Mutakalambo (Oxossi), o dono da caça, da fartura, oferendas feitas com carne de soja? De repente oferecerão a Nsumbu (Obaluaê) uma pipoquinha feita no microondas? Que tal um manjá com adoçante dietético e leite desnatado para Kaia (Iemanjá)? Sem falar que daqui uns dias serão capazes de oferecer a Njila uma farofinha feita com ração humana e óleo de girassol, substituindo o dendê e a cachaça, nada saudáveis diante à evolução da humanidade que vem buscando práticas mais adequadas à sua alimentação. Que eu tenha o discernimento para não infartar enquanto escrevo isso. Risos.
Fica registrada a minha opinião, respeitando aos mais velhos de todas as nações, m as não deixando de opinar, pois, ainda que eu não tenha hierarquia dentro da fé por ser muito jovem nas práticas dos rituais sagrados, Nzambi me deu a permissão de ser inteligente o suficiente e me orientar para uma casa de culto maravilhosa, com uma Mãe zelosa, para que eu, com o que me foi dado, defender como posso a minha religião e os preceitos ancestrais da mesma.
Estou encaminhando este e-mail para os amigos e irmãos de fé porque sabemos muito bem o que nos liga aos preceitos do Candomblé de Angola, Ketu, Jeje, Efón..."
Atenciosamente,
Nzungulê diá Nzamb
*a foto é de minha casa, dia do assentamento de Onilé, tirada após os pedidos e a oferenda feitos .