Eu faço Lian Gong no Parque da Pedra da Cebola em Vitoria. É um exercício oriental desenvolvido pelo médico ortopedista chinês da Tradicional Medicina Chinesa. Ajuda muito nas dores na coluna e no corpo de maneira geral. Tem movimentos lentos, ritmados pela respiração completa, bem diferente do que conhecemos por ginástica. O local de prática é um toldo aberto para o parque e ao redor tem as pistas de caminhada e a área verde do parque, que é utilizada pelos moradores das adjacências como forma de praticar caminhadas, corridas e vários outros meios de exercitar o corpo e a alma. O que eu notei nestes dias de exercício é que as pessoas que passam e olham para nos com uma expressão de descaso ou ironia em relação aos nossos movimentos. O que é diferente ou dá medo ou desperta o riso infundado. Pensei nas diferenças enormes existentes entre as nações e casas de santo do Candomblé.
Desde sempre esse tipo de situação acomete a humanidade. O “diferente” é alvo de preconceito, gerado por uma crença, de escárnio, gerado por uma tentativa de supremacia, ou por ironia, gerada pela ignorância. Raras vezes pude ouvir comentários a respeito de tal ou qual situação diversa do comum, fundamentados em uma justificativa plausível. Explico: no Candomblé, cada nação possui características próprias de atuação e gênese, segundo preceitos e fundamentos únicos e exclusivos de cada uma, e que se acentua muito mais quando colocamos o entendimento e o conhecimento de cada Pai ou Mãe-de-santo. Quando se perde um desses velhos da religião, perde-se muito mais que uma vida. O conhecimento no Candomblé é passado de geração em geração, oralmente, e em casos de necessidade dentro do culto. Não há o porque de se ensinar algo que não será feito em algum rito necessário ao andamento das obrigações da casa. Portanto, muito já se perdeu do conhecimento original vindo da África. É dentro de buscas e permanências de tradições que vamos mantendo esse conhecimento. Por fim, se um indivíduo, dentro de sua história, não viveu ou vivenciou uma experiência de um ebó ou obrigação, ele fatalmente desconhecerá tal fundamento e não o levará adiante. Os filhos levarão somente o que seu Pai o Mãe conhece e que lhes ensinar.
Mas o meu foco aqui é também outro: as críticas a algumas práticas observadas em outras casas de Candomblé. Lembro de um caso onde vimos uma saída de Iyaô em uma conhecida casa de Santo em Serra. Durante a saída de Oxalá, os orixás, incluindo um Oxalá velho, saíram de branco, como de costume, mas totalmente envoltos em mariwô. Neste momento notei e ouvi vários comentários da assintencia a respeito da interdição de Oxalá com o dendezeiro. O que pude notar é que ninguém questionou quanto à qualidade de Oxalá, quanto à origem daquela casa e da nação, e, principalmente, na pertinência e uso deste “fundamento” naquele contexto. Ora, pelo pouco que sei esta árvore, sagrada para os adeptos do Candomblé, pertence também a Oxalá, pai do branco. Suas folhas, seu vinho, seu óleo branco pertencem ao reino funfun. Mas como toda luz trás consigo a sombra, nesta mesma árvore temos a quizilas de Oxalá.
Fiquei bastante intrigado com este fundamento, confesso, e curioso de encontrar sua explicação, já que não pertence aos fundamentos de minha casa e de minha nação. Mas o que mais ficou claro foi o tipo de desconsideração com o outro e o escárnio e risos vindo da ignorância e da arrogância.
Somos um povo que sofre demais com preconceitos e com esse tipo de situação de quem é de fora da religião. Por que trazer pra dentro de nós (nosso meio) esse mal? Que pode ser comparado a um câncer.
Isso nos torna alheios ao conhecimento além de arrogantes dentro de nossas casas.
Mukuiu!
ResponderExcluirPeço sua bênção e venho para comentar um pouco sobre a nossa religião. Embora não sejamos da mesma nação, não diferencio o parentesco com os meus iguais porque sei o quanto nos sacrificamos para mantermos vivas as nossas raízes.
Tenho enorme orgulho da religião a qual faço parte e procuro me manter na retidão do aprendizado para cultuar meus Mikisis.
Acho violenta toda forma de preconceito, mas não há nada pior do que o desrespeito com a individualidade.
Beijo amigo querido e sua bênção!
obrigado Fabíola! sua participação é sempre bem-vinda. se tiver alguma sugestão de assunto ou mesmo algum texto que queira publicar aqui será um prazer fazer esta ponte.
ResponderExcluirbijos e Mukuiú no Zambi!
Renato muito bom esse post. Isso também me deixa um tanto triste, as críticas pelo simples simples fato de criticar, mas com toda certeza essa é uma das coisas que vem no pacote da vaidade, insisto nisso porque tenho certeza de ser esta a causa de tanto mal e mau ao nosso querido candomblé, e vc falou muito bem a respeito do dendezeiro junto a oxala, ele não tem problema nenhum com a arvore, e sim com o oleo, enfim..
ResponderExcluirE A RESPEITO DESSE EXERCÍCIO, VC TERIA COMO ME ENVIAR, POIS SOFRO COM AS MINHAS DORES EM CONSEQUÊNCIA DA MINHA LORDOSO E HÉRNIA DE DISCO ALÉM DA INFLAMAÇÃO DO NERVO CIÁTICO.
Poxa Raimundo, muito obrigado por suas contribuições. O que eu pude notar é que estamos todos no mesmo "barco". queremos o moelhor pra nós e pra nossas casas. Essa busca é a mais difícil quando lidamos com muita gente junta, com vaidades e com cabeças distintas.
ResponderExcluirquanto aos exercícios eu nem sei como te mandar isso, pois sem meu instrutor não consigo nem começar..rsrsrs...émelhorprocuara aí quem possa te dar uma orientação, mas vou ver aqui se meu instruutor conhece alguem de sua região.
sua Benção e conto com suas palavras sempre por aqui