estive em viagem de trabalho e pude ver muitas coisas, pensar muito, analisar algumas coisas.
Isso às vezes é imprescindível pra levar a vida adiante.
uma coisa que eu notei muito em mim neste isolamento compulsório que vivi nestas viagens foi pensar na relação de cobrança que temos com os Orixás.
Sempre que pedimos algo ou fazemos algum trabalho, ebó ou obrigação temos a nitida sensação de qeu tudo vai ser atendido conforme queremos.
Ledo engano. As coisas acontecem de um jeito que não podemos prever, nem com nosso principal oráculo podemos prever. Elas se encaminham de conformidade com as determinações de nossos Orixás, sem ser uma coisa escrita, pre determinada. São formas de conduzir que nos levam ao que pedimos. O problema é que nunca sabemos se esta forma de conduzir é o que queremos.
mas isso é devido ao fato de acharmos o tempo todo qeu a felicidade a que almejamos é um final, um ponto. O que esquecemos é qeu a felicidade está no caminho, no processo, na evolução, no dia a dia.
O pedido feito é uma forma de atingir satisfação, mas o qeu realmente importa é como será alcançado.
Neste ponto chego a uma questão fundamental em minha vida e em minha experiência: colocar a religião em cheque toda vez que não realizamos o que pedimos, ou simplesmente não queremos esperar que as cosas se ajeitem pra que se alcance o objetivo, ou pior, não nos sentirmos satisfeitos com o modo de chegar lá.
Vejo muitos desistindo de tudo por esse motivo.
Confesso também já ter pensado assim (as vezes ainda penso). Mas é pura falta de crescimento interior e de maturidade emocional. Nossos Orixás não são comerciantes tão pouco seres que vem aqui só pra comercializar nossas alegrias. São energias que procuramos nos relacionar através de comportamentos nossos, de oferendas, de iniciações e obrigações.
Um outro ponto importante é o do comportamento. Uma vez li em algum artigo assinado por D. Ruth Cardoso que o Candomblé é uma religião de comportamento, não de fé. Lendo assim ficamos com uma impressão errônea da religião. Mas olhando a fundo veremos qeu há muita verdade nisso. Se estamos em uma religião, seja ela qual for, e não a praticamos, podemos realmente falar que somos dessa religião? No caso específico de nossa religião, o Candomblé, se não nos comportamos segundo os preceitos da casa, da nação, de nosso Orixá de cabeça ou do momento em que vivemos, podemos falar que somos do Candomblé? Que estamos praticando uma religião afro?
Penso que não. Procuro seguir tudo o que determina meu Orixá, meu Pai de Santo, minha religião. Procuro não me esconder e divulgar desta forma para o mundo o que eu penso, o que eu sou, o que é minha religião. Acredito que com pensamentos assim e com comportamentos assim faremos muito pela nossa religião.
Axé!
a benção a todos.
Mukuiu!
ResponderExcluirQuando comecei a exercer os preceitos e a me entregar de verdade, tive a oportunidade de perceber a relação do meu comportamento, tanto fora quanto dentro do barracão, com o equilíbrio que vinha buscando.
Não discordo completamente do comentário de D. Ruth Cardoso. Realmente, se pararmos para pensar direitinho, percebemos o quanto nosso comportamento influencia na energia que recebemos dos Mikisi.
Muitas vezes somos prepotentes e arrogantes, acreditando que quando oferecemos algo às nossas divindades, receberemos imediatamente o almejado. O TEMPO DOS MIKISI É OUTRO.
Minha relação com o sagrado é peculiar. Não tenho o que pedir, apenas agradecer. Talvez por isso o equilíbrio venha para que eu possa começar a aprender me relacionar melhor com o mundo.
Sua bênção e saudades.
Beijo.
Nzungule.
Parabéns pelo artigo Renato, sempre oportunos e inteligentes.
ResponderExcluirVou citar o Olwo Angenor Miranda:
" o que falta é fé, o povo coloca comida pro santo e quer resposta, alguma coisa acontece e falam, cade meu santo? dei comida pro santo como pode acontecer isso?...
Enfim, e o comportamento é essencial para se encontrar e entender a fé; religião ( religar com o divino ) e é no comportamento que faremos essa ligação, e na nossa religião isso é essêncial, acabei de tirar um omo guian, e tenho explicado exatamente isso, o que faz um yawo trazer o seu divino a "incorporar" do seu íntimo para o seu completo ser, é o comportamento. Agir, principalmente no período de preceito do kele, ( querem diminuir o tempo...aff ); bem, agir de forma que alimente e fortaleza essa energia, e desta forma entender-se nessa nova vida, na qual a partir da iniciação, temos mais condições de enfrentar a vida, e seus tantos caminhos.
Não vou me prolongar, pois esse assunto me estimula. rsrsrsrs
Meu querido quero mais uma vez lhe parabenizar pelo blog, e continue viajando e descobrindo e/ou relembrando fatos que o inspire.
beijos e motumbá