Depois de um tempo sumido daqui eu retomo, devagar, a minha primeira proposta: escrever coisas sobre como é viver uma vida ligada aos Orixás, trocar idéias, receber criticas e sugestões.
Meu sumiço se deve em parte a uma insatisfação e em outra a um problema muito sério que pretendo começar a discutir aqui hoje.
O primeiro motivo é a insatisfação relacionada ao outro. Explico: quando me motivei a escrever aqui com esse propósito, me imbuí de um anseio que não se concretizou. Queria que aqui fosse um espaço pra discussão entre iguais: adeptos do Candomblé. Mas não vi isso acontecer. Veio de cara a decepção. Os poucos comentários que eu recebi foram de pessoas que são meus amigos, mas nenhum ligado diretamente a minha casa ou ao meu barracão. Amei de montão saber que tenho amigos que fiz há tempos e que ainda permanecem assim comigo. Mas eu queria mais.
O outro motivo de meu desaparecimento em quase tudo foi a depressão. Não estamos acostumados com esse mal. Não sabemos lidar com ele. Nem quem está dentro do problema e nem quem está fora dele. Tive grandes problemas e todos relacionados a depressão. Não tive quem pudesse me orientar, me dar uma força, estar perto de mim ou pelo menos ligar pum convite, que mesmo recusado poderia dar indícios do que estava passando. Ainda não saí disso, mas hoje eu penso mais tranquilamente em tudo isso e posso começar a ver que um certo equilíbrio está vindo. Mas ainda tenho medo de certas coisas e receio de certas atitudes das pessoas que se aproximam de mim.
Não sei dizer como isso começou, mas sei precisar quase que exatamente quando eu me afastei de tudo e de todos, inclusive de meus Orixás e de minha casa. Foi um erro? Não sei dizer, não agora. Sei que foi necessário e que continua sendo, acho que pra meu melhor equilíbrio.
Ouvi muito dizer que era agora que eu precisava de estar lá, com meu povo, com meus Orixás, tocando minha vida. Mas honestamente, quando se está assim a ultima coisa em que acreditamos é que a convivência pode fazer algo, que um ebó pode mudar as coisas, que um Bori vai nos fazer mais confiantes. A depressão se incumbe de nos tirar tudo, inclusive a possibilidade de ser ajudado. Como agir nessa hora? Como fazer quando vemos um amigo ou irmão assim? Conversas de telefone ou de Orkut? Nunca, são os piores caminhos. A esperança está no contato, no fato de sabermos que temos alguém, que temos suporte, não com frases lindas, mas com a realidade e a convivência.
Sou grato aos meus Orixás que puderam até agora me suportar e me sustentar.
É pra eles meu texto de hoje.
Axé Babá Mi!!!
Epa Babá!
....Ori, Ah Ori. O início, o Eterno. Como lidar com Ele? Essa resposta está justamente em nos compreendermos profundamente: Saber de si.Reconhecer em si a Divindade. Talvez seja exatamente nesse momento que há uma ruptura com tudo e Todos...é uma grande viagem em que se torna absolutamente necessário percorrer nossos contornos mais sombrios, onde se está completamente só e, ali, naquele lugar, você terá que lidar consigo mesmo. Esse é, para mim, o embate que enfrentamos na depressão. Talvez uma oportunidade única de, em vida, lidarmos cruamente com nós mesmos, encararmos nossos medos, fragilidades, desejos, anseios, insatisfações, frustações. Alguns sucumbem e chegam a encontrar a morte, outros inexoravelmente vão ao fundo e retornam Fênix. Retornam diferentes, marcadas, vividas...vantagem? desvantagem? sei não! Mas é sem dúvida uma experiência única! Incompreensível pros que não chegaram a esse nível de (in)consciência. Ligar tudo isso, meu caro irmão, com nosso credo talvez seja mais simples do que imaginamos e talvez o seu texto exemplifique as consequências práticas dessa viagem na nossa prática religiosa. A ruptura estará presente tanto no convívio material quanto espiritual e nesse momento vivemos uma pausa. Nossos conceitos e crenças se desqualificam, a representação material ritualística das cerimônias e ebós não mais contemplam nosso entendimento da vida. Até nossa relação com os Orixás é ressignificada, pois a relação com nosso próprio Ori é reconstruída e parte daí, um novo entendimento de Tudo e Todos, seja na esfera material ou espiritual.É como se tudo isso nos mostrasse que temos pés e cabeça e que podemos caminhar sim... cabe-nos escolher bem os sapatos para enfrentar as agruras do caminho.
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