sábado, 11 de dezembro de 2010

OS POEMAS MÍTICOS:



Quando ouvimos de um sacerdote uma história onde temos uma mulher guerreira que luta por sua liberdade, busca sua felicidade e saciar seus desejos, incluindo aí os de cunho sexuais, vamos ter em mente uma figura feminina sensual e forte, mesmo quando no fundo sabemos que seu culto se refere ao rio de mesmo nome na África e que este é o Orixá dos raios e das tempestades. Quando falamos de Oyá ou Iansã estamos falando de um culto a uma força da natureza que rege tempestades, ventos e raios. Que tem em sua origem um rio de mesmo nome onde originalmente eram feitos seus rituais, e que por adaptação aqui no Brasil é feito em qualquer rio ou em casos específicos em lugares altos e com muito vento. O que o relato trás como característica principal é devido a associação destas características das forças da natureza envolvidas no culto com características semelhantes que podem ser observadas em mulheres de personalidade forte e sensuais: voluptuosas, guerreiras e destemidas. Esta talvez seja a principal fonte de formação de uma imagem para aquilo que não possui modo de apresentação. 

Uma outra questão que reforça esta formação de imagens vem da associação destes relatos com a prática da dança. No caso citado acima, a dança de Oyá é rápida, de movimentos que lembram o uso de espada numa luta ou que fazem algum tipo de insinuação para o cortejo amoroso. Seus movimentos são lânguidos, porém seguros e nada comedidos, próprios de uma mulher sensual que sabe muito bem o que quer. 

Portanto suas cores também vão respeitar estas características descritas nos mitos e vão também acolher as cores de seus elementos: o cobre, o fogo, o azeite de dendê e tudo aquilo que tenha proximidade cromática com estes elementos. Estas características vão reforçar a formação de uma personalidade e o entendimento necessário à formação de uma imagem antropomorfa para estes Orixás. Mas aqui faço a pergunta: como evitar tal fato se nos próprios poemas temos uma descrição que não remete a estas forças da natureza do culto e sim tratam de seres muito próximos aos homens e mulheres, com toda sorte de sentimentos?

Psicologicamente falando, imaginar é inerente ao ser humano. Dar figura a um relato então é algo que se processa muito mais facilmente a partir do momento que este se mostra como forma de figurar o não-figurável. Artifício usado para que se possa processar de forma facilitada o que se mostra de difícil assimilação para o cérebro. Em seu artigo Análise Formal do Panteão Nagô, Lepine dimensiona em sua pesquisa todos estes fatores e os associa diretamente a estas características definidoras de uma personalidade das divindades cultuadas nas casas de Candomblé da Bahia. Ela, no entanto vai mais além quando coloca toda uma sorte de elementos pra reforçar estas características, indo desde aos animais sacrificados até os interditos de cada um deles. Neste artigo ela coloca classificações primárias, secundárias e ternárias, fazendo todo um acervo de encaixes de atributos numa definição destas características.

Neste sentido imaginar nossos Orixás é, não só natural, mas extremamente necessário para a compreensão e assimilação de valores, interditos, conceitos abstratos e formação de um agir e de um fazer próprio do iniciado, marcando-se assim sua inserção na sociedade após sua passagem pelos ritos de iniciação da religião.







Bejus e bença!

Um comentário:

  1. Texto de meu trabalho de Filosofia e Arte no mestrado em artes e gravura de Carybé.

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